“São os meus filhos que preparam…”, dizem orgulhosos, “… em jejum é um branquinho, ao pequeno-almoço um branco mais pequeno, um cor-de-rosa assim mais compridito e um amarelinho com um risquinho a meio…” E seguem por aí fora com a sua lista de medicamentos. Quem é responsável pela gestão dos medicamentos muitas vezes exaspera-se com as cores e tamanhos simpaticamente descritos…
Será que temos que dar razão aos idosos? Os medicamentos têm nomes difíceis de pronunciar mas, pior que isso, podem ser muitos. Alguns dirão demasiados. Será?
Ser idoso, apesar de inevitável, não é fácil.
A morbi-mortalidade aumenta exponencialmente acima dos 75 anos. A necessidade de combater as comorbilidades que vão surgindo implicam a intervenção de vários profissionais de saúde, sendo vários deles médicos que prescrevem medicamentos acreditando no melhor interesse do doente. E aqui ainda falta incluir todos os chás e suplementos tão publicitados nos programas de televisão que fazem tão bem e que, claro, também seduzem os nossos idosos. Facilmente, sem supervisão, a lista de medicamentos pode atingir as dezenas de “comprimidos”.
Parte dos cuidados a dar ao idoso passa por auxiliar nesta gestão de caixas e comprimidos…
Essa ajuda pode vir de várias formas.
Agora estão na moda as chamadas “polypill”, ou seja, um comprimido que engloba mais do que um princípio ativo, diminuindo o número de comprimidos individuais que se podem tomar. Mas isto inclui-se num aspeto, para mim, ainda mais importante: a revisão da terapêutica em cada consulta médica, a cada oportunidade, a cada intervenção. E envolvendo os idosos nisso. Rever sempre a lista de medicamentos mesmo que conheça o idoso há vários anos, em vários contextos. Os que já me conhecem, trazem as suas medicações, espalham tudo na mesa do gabinete e vão conversando, tirando dúvidas, mostrando os mais recentes. Vamos analisando, percebendo quando e o porquê da sua introdução, vamos revendo o que efetivamente ainda faz sentido e se não há efeitos adversos associados a eles… mas reconheço também o tempo que investimos. E num ambiente controlado ao minuto como são, por exemplo, as consultas em que se tem, no máximo, 15-20min para isso pode ser difícil ou até mesmo impraticável, dirão alguns, fazê-lo de forma sistemática.
Não, não é fácil. Mas enquanto médica e cuidadora tenho a certeza que é necessário e fundamental para a saúde dos nossos idosos.
Joana Cascais Costa, Médica Internista